O emprego do termo narcisismo vem da cultura grega e significa o amor do indivíduo por si mesmo. No final do século XIX, o seu uso foi incorporado ao discurso científico, mais precisamente à sexologia nascente, para designar “uma perversão sexual caracterizada pelo amor do sujeito por si mesmo”. Em 1914, o termo entra definitivamente para o discurso psicanalítico, quando Freud (1914/1974) abre caminho para o entendimento do narcisismo como elemento constitutivo do amor-próprio e da autoestima e, portanto, destinado à autopreservação do sujeito e formação dos laços sociais. Sem a introdução do narcisismo, não existiria a dualidade entre pulsão de vida e pulsão de morte. Em consonância com uma tradição psicanalítica fiel ao estudo dos quadros psicopatológicos, o narcisismo tornou-se bastante conhecido em seu caráter patológico a partir dos estudos das estruturas psicológicas: neurose, perversão e psicose. O narcisismo primário dos pais, já abandonado, é revivido e reproduzido em seu amor ao filho. Segundo Freud (1915), para poder investir narcisicamente em uma criança é necessário, amar o que somos, o que fomos e o que gostaríamos de ser, assim como aqueles que cuidaram de nós. O narcisismo é a forma como um adulto trata seu corpo com os cuidados que usualmente seriam dedicados a um objeto sexual externo (Freud, 1916/1997c). Posteriormente, a pessoa será capaz de escolher outros objetos, que não o seu EU. Por essa razão, a ocorrência de um aborto provoca uma profunda dor narcísica. Outro fator a ser estudado nos dias de hoje, é o de que a sociedade contemporânea, caracterizada pela importância das redes sociais, está mergulhada em um narcisismo que pode alcançar um caráter que adoece. Dessa forma, o objetivo desse trabalho é o de descrever a importância de entender como funciona o narcisismo nos seres humanos, bem como o uso de alguns exemplos para “ilustrar” as possíveis patologias e suas implicações na vida de todos. Sendo assim, um dos pontos mais importantes refere-se à distinção entre narcisismo primário e secundário, conceitos relacionados à diferenciação das estruturas neurótica e psicótica.